Que o amor fosse árvore

Que o amor fosse árvore,

Que fluísse e se espalhasse

Em galhos tortos

(perfeitos por serem tortos)

E que dessa disformidade,

Desse estranho esparramar-se

Surgissem folhas desarranjadas;

E surgissem folhas e frutos doces;

E folhas e frutos e perfumes ácidos.

Que tal árvore se desse ao vento,

Ao sol, à lua, às mulheres e aos homens,

Como quem se dá sem medos a mil amantes,

Porque seus pés seriam raízes

Fincadas à terra fofa e envolvente.

Que possuísse as semelhanças díspares

De todas as árvores de todas as florestas,

Mas que retivesse o exotismo raro de seu fruto.

Que em sua casca se tatuassem nomes

E sangrassem lentidões de afetos.

Que a sua sombra fosse bastião,

Onde os amantes se doassem sem riscos,

Modelando-se pelos dedos solertes,

Tão ágeis, quanto tímidos e pecadores.

Que se sujeitasse ao machado

(primórdio símbolo de destruição)

Para ser lapidado, mostrado cerne vivo,

Modelado pela faina descuidada do lenhador.

Que o amor fosse árvore,

No alongar de sua assimetria,

Que já não se conformasse

Com os limites insofismáveis

Das sementes em sacarias dos armazéns.

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 23/07/2015
Código do texto: T5321170
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.