Ai de ti, Mimoso

Ai de ti, Mimoso, terra mãe desgraçada

Esquecida e repudiada por teus filhos.

Vives hoje, rota e desamparada,

Foste esquecida e humilhada,

Em nada lembrando a beleza

De tempos nem tão distantes,

Em que reinavas absoluta,

Destaque entre tuas iguais,

Em que eras chamada de Pérola do Sul.

Ai de ti, Mimoso, terra mãe prostituta

Que criaste teus filhos como gigolôs

Que, hoje, se à casa retornam,

Somente dela desfrutam, indiferentes, frios, sem amor.

Certamente a eles negaste

O límpido de teus regatos,

O frescor das frutas do campo,

O ócio das tardes, a paz da Ave-Maria,

A sombra de tuas árvores,

O embalo das copas, o cheiro do mato.

Ai de ti, Mimoso, terra mãe opressora,

Que proibiste que em teus cantos de ruas

Namorados trocassem juras e carícias de amor,

Que lhes negaste as flores de teus jardins,

Que calaste serenatas em noites de lua;

Às crianças, que toiassem a bola de gude

Até mesmo a brisa morna às pipas,

Que jogassem pião, amarelinha em tuas calçadas

E, prepotente, com o jipe do Padilha,

Todas as chácaras de Judas derrubaste.

Ai de ti, Mimoso, terra mãe mesquinha,

Que a teus filhos negaste a abundância

Dos peixes de teus regatos,

Dos pássaros de tuas matas,

E, de tuas filhas os amores,

E, se hoje, eles, médicos e engenheiros,

Eminentes Deputados, Governadores,

Surdos não ouvem teus apelos.

É porque já nasceram adultos,

A eles foi negada a própria infância...

LHMignone
Enviado por LHMignone em 24/09/2005
Reeditado em 04/09/2017
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