Prendas
Queria tanto te presentear
Com tudo aquilo que não me pediu
Deitar sobre ti uma cama de pingos floridos
Te oferecer a boa sorte do que é possível
E apenas prometer a certeza do sonho
Eu vi o teu sorriso
Mas vi de longe
Me estiquei, me estendi
Alcancei apenas o teu cheiro imaginário
Com seu gosto adocicado
E sua fome de abraço
Queria te presentear com o encantamento do azul
O calor do vermelho, a sabedoria do cinza
E encher a banheira de rosa, pra você se banhar de verde
Posso tentar buscar na renda do mar
Desejos, significados, devaneios
Extrair de horas de contemplação
Sensações suficientes pra te encher os lábios
Com seu mais impensado querer
Eu sei onde fica a plantação de afagos
E o depósito de sussurros
Seriam bons presentes
Embrulhados em papel de qualquer tom
Tilintando selinhos na ponta do nariz
Não sei como as embrulharia
Mas te daria todas as notas
Um sol pra usar de manhã, um dó para descansar
E rés e mis para alegrar sua casa
As outras você guarda para o final de semana
Seus presentes ficarão guardados
Esperando que você se aposse deles
Ou que eles se apossem de ti
Por enquanto, aceite,
desembrulhados
Esses versinhos
Descarados