Divina Alucinação de Quem Ama.

Sou bem mais que uma sombra na noite,

O rosto na multidão, dos afagues, anseio...

A solidão, a amargura do ser e os desejos.

Busca de carinhos em fuga aos açoites,

Sou o ardor, escravo em trajes e palavra nua,

Visão a vagar no vai e vem trôpego das ruas

Se me doas ou se me vendes... Assim é o prazer

Nem sempre troca, nem sempre é doação.

Não importa compreensão do que és e possa ser

Pelo o que sentes e não tem nome e nos consome.

O que posso ser para você, você para mim...

E na interação, um nada, o tudo que somos!

Seremos vulcões ou lagos de calma translúcida

Seremos tempestade e bonança... Jardins em flor!

Tu serás fogo. Serei brasa. Juntos, o clarão da noite,

Ardendo a incendiar-nos os flancos e arrepiar a pele.

Mas não tendo nome, interpretai como quiseres...

E o sentido de tudo vai estar no gozo e fruição,

Nos espasmos, intumescimento, contrações...

A alma encoberta de carne, a derme de suores.

Cor, cabelos, sentimento, líquen e húmus...

Raízes que se entrelaçam mãos que se dão.

Corpos, que atam, desatam sem medida ou compostura

Despindo-se no olhar do outro, com ímpeto e ternura.

Seremos apenas sorrisos imprecisos a fluir por aí!

Seremos mais que um rosto na noite escura e fria,

Mais que as confidências, sós, frente ao espelho.

Seremos o invisível e inaudível que julgamos além!

O alguém que lhe acarinha ternamente e não vês.

Quem, mantém sua boca lânguida e emudecida.

Este, que na explosão do prazer lhe sufoca o grito,

E lhe encharca sem medida do fruto da paixão

Na ponta delicada de seus dedos a fugir sem ter caminho

A todos os extremos de seu corpo trêmulo

Incendiado da volúpia e carinhos...

Quando não sabes se gritas ou soluça apenas,

Se os prazeres lhe veem na sedução das mãos...

Sou quem substitui o sussurro por gemidos

Nos estertores que trás a madrugada vazia

Quem agora a faz adormecer no ninho às almofadas,

Nas essências patchouli, verbena, nas rubras sedas...

O sabor de licor e cereja. A tua boca autofágica

O hálito quente, o beijo sôfrego infinito.

A língua quente a passear na minha...

Tudo isto me trouxe a humana e tênue sensação

No meu jeito esparso e alienígena de ser

Uma vez estando unido a você ser um só...

Indivisível, de quem vive um amor anômalo,

Vencendo feroz e incansável lúgubre distancia

A tornar viável o paralelismo de nossos mundos.

Confidenciando a Hesíodo nosso segredo

Guardião incólume do portal das fadas.

Faremos do jardim de Ísis nossa morada

Alvorecer e crepúsculo testemunhas da entrega mútua

No esplendor da luz e quietude do teu silencio

Lá! Serei eu o teu Amor, tu, serás minha amada.

Adonis Yehrow
Enviado por Adonis Yehrow em 17/09/2015
Código do texto: T5385964
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