Castelo do Amor

Enchamescido pelo júbilo celeste

Eu vivo porque morro todo dia

Nas tormentas dos passionais contentamentos

Entre ditosas,volupicas musas lisongeiras,

Fadas do sexo, amantes sinceras, verdadeiras,

Urbe sagrada, corpos côncavos seletos.

Pela cidade constelada de estrelas e de nardos

Musas ensinando o balsamo aos cardos

Das florações humanas eterno viajor:

Mediterraneas ,morenas estatuas ou alabastro,

Valquirias vaporosas,princesas do palor

Enovelado nas asas fulgentes do amor

Eu seguirei, a colorir no azul meu rastro.

Delicia extrema entre martírio atroz

Após banhar no mistério o sentimento

Quando a expressão velada aclama a voz.

Sabeis, poetas do caos das trilhas infinitas,

Onde o triunfo é louro no seio da morte?

É o mundo uma aurora, ou desprezada sorte!

O divino amor que habita o imo das mulheres

E que as faz albergar e compreender o mundo

No seio macio como a ceda em talhe perfumoso

Ode apraz das Visões o olhar iluminado

Ascender o fogo santo nos humanos corações

Com o zelo extremo das sentidas comunhões.

Nesse paraíso velado,infinito de volúpia

,De canduras, de risos,de ternuras e anelos,

Desfraldando o pavonear dos cabelos

Belezas de minúcias e infinitíssimos castelos

Soberbas de paixões, profundas como oceanos,

Contidas no detalhe de acenos soberanos.

Nesse oculto pélago de delírios e de desgraças

Onde mesmo a águia se perde em ilimitado

Feliz quem no momento supremo ouver amado

Feliz quem saúda a eternidade e afaga o céu

O restante são paixões de incerto rastro

Clarões sibilos como a cauda das serpentes

Contém o sonido dos chocalhos inocentes

Para preparar com mais gosto a destruição.

Mas se leda amante sem rodeios ardilosos

Porem vestida de um perfume puro

Vos acena com bondades ao futuro

No seio da graça com ares de iluminação

Deusa e mulher—estatua e pessoa

Resplandecente em amor, terna em virtude,

Bela, superior a aparência,tua em verdade,

Benção, jubilo do universo ,perfeição!

No castelo do amor habitai,a alma grata,

Resplendente em seu achado sereno

Sorvendo o cálice do paraíso terreno

Muito próximo dos djins a nobre benção!

Que volúpias perfumosas e eloquentes

De orgíacos lírios os sensuais desmaios

Na doçura entrecortada de gozosos raios

Unindo a nau das vagas a doce viração!

Consorciai-vos a ditosa amante sociedade

Que vive do mel, do licor da ventura,

Se deriva as plagas magas da aventura

È bêbedo do luar da sagrada eleição!

Suspiros mornos,ondeantes violoncellos,

Que esvoaçais do seio em beijo palpitante

Evolando o licor gratuito do instante

Albergai a morada da lírica imensidão!

Enternecei os vórtices lúbricos dos castelos

Do amor,onde passionais desvelos belos

Vos conjugam a estrela no cadente amar!

Ao mor é porto alem da vasta procela

È oceano de gozo de visões tão belas

Albergue resguardando os lumes do altar!

Lírio santo, arde a lâmpada zelosa e cara,

Lambe os contornos da esposa nobre preclara,

Investe o albatroz das galas altas do céu;

Pouco vos importam as loucuras prostituidas

Ferindo enganosas o amplexo das vidas

Desta harmonia nos ledos lampejos ao léu!

Alma preciosa que o harpejo veste

Lisztiana lira de melodioso Orpheu

Ao homem de coragem e jubilo reveste

Concede a certeza de que a vida floresceu.

Embalsama de amor do passado as dores

Põe no hospital outros passados amores

Ensina aos anos a segurança dos faróis

Triunfo imortal dos líricos arrebóis!

Que importa o mundo urre ao léu, nos vales,

Uivos de mágua ante os trevosos lupanares

A mulher modernize a eternidade sem piedade?

Os castelos doa mor são os paços singelos

As quermesses do amor, torreões ubérrimos,belos,

Congraçando os passeios de toda a humanidade!

Vertei os aromas das mais eloquentes volúpias

Daí ao coração languidos versos em copia

Daí emblemas santos da sagrada união

Triunfastes nas trevosas tempestades da vida

O amor é a fortaleza nobre e enternecida

Edifica felicidade e a paz nutre então.

Vórtices velados dos violoncelos veludosos

Paraíso revelado a carne conjugada

Trunfo supremo ante os deuses da jornada

Da vida incerta, da esfera necessitada,

Rejubilai nos bosques de vossa alma amante

As sinfonias do corpo gravadas no semblante,

Vossos olhares são falcões de veludos ternos

A deliciar nos primaveris paramos eternos.