De corpo e alma
Nem procuro mais
o que não existe
É tempo de dar sossego
aos meus cansaços
É tempo de adiar todas
as depressões
recorrer e devorar
todos os maus pressentimentos
algemados em famintos corações
É hora de aceder aos ponteiros
da vida e rever no tempo
todas as intocáveis saudades
Renascer em cada
momento perdido
na esteira dos nossos
lamentos
Iluminar nossas existências
com gargalhadas e saudações
arrancadas às memórias do poeta
alinhando-se vertiginosamente
em inusitadas e breves palavras
que teus lábios sossegadamente
um beijo por fim desperta
Como tudo é inverossímel
faz-se do silêncio um festim
de paixões impossíveis
Acorrenta-se a luz do dia
e oferta-se às noites nossos
sonhos
o corpo e a alma
a espera do nada
quando os instintos se incendeiam
e os afectos ainda ígneos
furtivamente nos sustentam
Hoje nossas monotonias
soltaram-se na arte e no rigor de todas
as apetecíveis ousadias
consumindo-se em encantos esculpidos
num punhado de versos alastrando
até ao morrer de cada hora tardia
FC