Espreitadelas

Fui no tempo pintando

teus relevos no vento

Escrutinei os céus

em busca dos beijos

filtrados pelas nuvens

onde sequencialmente

nos albergamos satisfeitos

Fui no tempo

nutrir-me de vida

protagonizar outros

segredos deixados

amarrotados em lençóis

despojados de memórias

Fui decretar aos sentidos

que sem malícias

um dia nos extasiamos

quebrando todas as demências

Domesticámos as esperas

despimos as saudades

ressuscitámos o silêncio

onde exprimimos

actos consentidos de amor

habitando as manhãs transitórias

amadurecidas de euforia

Um dia nossos seres

deixarão esculpidos

com elegância inconfundível

os ecos deste amor

para gáudio dos empaturrados

desejos

em plena simetria

Fui

e não mais voltei

deixei outras ausências

estampadas na indigência

dos tempos

Simplesmente faleci

neste vagar dos ventos

onde proscrito me entrego

peremptório e homologado

espreitando-te súbtil

na extravagância desse gingar

quando por mim tão alegre

e graciosa serpenteias

FC

Frederico de Castro
Enviado por Frederico de Castro em 23/12/2015
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