Conficções

Do tempo quero somente

que me despojes deste corpo

que te invade

Ser o esteio numa promessa

que não se cumpre

soprando nos dias teu

palato com gosto de sonho

sonhando devagarinho

insuflado de paixão

ao colo do teu leito marinho

Do tempo restam

só palavras meigas passarinhando

nos teus silêncios em burburinho

sem te escamotear os medos

atrelados nos ventos felizes

que em ti esquadrinho

Restam somente

uma resma de versos

degladiando-se entre a leda

madrugada que em ti

toda se satura

e a hora

vadiando no pelourinho

de uma fresca brisa dissolvendo-se

no húmus da Terra

nutrida, insólita

em oferendas de amor

tão implícitas

Restam minhas confissões

sustidas em prantos

que já lá vão

embaralhando o naipe de palavras

onde me alimento desvairado

de quase nada

ou de tudo que deixo escrito

na luminescência dos dias

correndo pra nós entrincheirado

Restam sonoridades

pautadas na caligrafia do tempo

acariciando cada letra despertando

na plenitude dos ventos

chamando à vida todas

as aguarelas colorindo esta

poesia toda ela

de ti se empanturrando

FC

Frederico de Castro
Enviado por Frederico de Castro em 31/01/2016
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