TEU OLHAR CONTAVA TUDO
TEU OLHAR CONTAVA TUDO
Josa Jásper
Eras bem menor ainda,
Quando te vi, muito linda,
Na mesma sala de estudo.
E, à proporção que me olhavas,
Descobri que tu me amavas:
Teu olhar contava tudo!
E, feliz e embaraçado,
Escravo do teu recado,
Comecei a olhar-te, mudo.
Via os teus olhos sorrindo
E, ousado, em teu rosto lindo,
Teu olhar contava tudo!
Mas eu nunca me atrevi
Nem mesmo a falar de ti,
Como qualquer linguarudo.
Guardava os lances com medo...
Sempre afoito e já bem cedo,
Teu olhar contava tudo!
Pela ação banal de olhar-te
Foi, então, que vim a amar-te:
O punhal do amor, pontudo,
Me feria o coração...
E ao teu também, como não?
Teu olhar contava tudo!
E aprendi, naquele olhar,
A forma certa de amar,
No sentido mais agudo!
Pois lá, no canto da sala,
Sem gesto, sem toque ou fala,
Teu olhar contava tudo!
Hoje é triste a minha vida:
Vejo em teus olhos, querida,
A luz do amor apagada.
Teu olhar já não partilha
Da luz que, em meus olhos, brilha:
Teus olhos não contam nada!
Quando teus olhos procuro,
O teu olhar, belo e puro,
Procura fugir do meu.
E, imerso em dorida mágoa,
Pelos olhos, rasos dágua,
Quem conta tudo... sou eu!