Trinado
Essa mania, que a maçã de ouro que dou
Para minha amada seja em salva de prata;
Esmero a mostrar mais ela que o quê, sou,
me abranda alma, a maciez da minha gata...
Amor seria igual riscado em papel de pão,
Desde que ela entendesse essas garatujas;
e como silenciar tais melindres, do coração,
a se dar sem pudor, em versos de lambuja?
Quem ama compreende estrelas disse Bilac,
e quem é musa, deve entender aos poetas;
podem resumir o tempo, usam, cada tic-tac,
pra bordar minúcias de suas almas inquietas...
Então, são, aves exibicionistas, uns papudos,
parecem ofertar quando demandam carinho;
melhores trinados, penas coloridas, contudo,
visam convencer a fêmea a partilhar o ninho...
Aí, essas flores que os Aedos amantes veem.
Se dão desde a relva pra uma visão mais alta;
amiúde, não bordam com o talento que têm,
apenas acentuam, à grandeza que lhes falta...