SORTILÉGIOS DE AMOR
SORTILÉGIOS DE AMOR
Quando me olhavas,com teus olhos penetrantes,
Eu me quedava preso a ti nesses instantes
Em que as meninas dos meus olhos vacilavam
E,promovendo fugas loucas,repentinas,
Iam buscar um novo par de outras meninas,
As dos teus olhos,com quem,juntas,se abraçavam.
O mais silente e adocicado dos teus beijos
Acorrentava-me em centenas de desejos
Que,nos teus lábios,criam ser dessedentados.
Mas,quando os meus,aos lábios teus,tinham franquia,
Num baile eterno eu com teus lábios ficaria,
Não fosse arfante o frenesi do seu bailado.
Mesmo à distância,perfumavas meu olfato
E,assim,de longe eu já fruía o teu contato:
Em meus sentidos,com prazer,te assimilava!
Correndo vinhas ao encontro dos meus braços!
Eu,mais ainda,pra envolver-te em meus abraços!
E,ao pôr-do-sol,um corpo só se destacava.
A cada beijo adocicado que me davas,
Pude entender o quanto,assim ,me alimentavas,
Numa certeza que por nada se consome!
Portanto,em meu confuso ou sábio pensamento,
Mais que mulher,foste também fonte e alimento,
Eis que de ti eu tinha sede...e tinha fome!
Sempre que,em vão,tentava expor-te o que eu sentia,
O meu retorno era maior do que eu previa:
Tua voz gentil aos meus ouvidos foi canção.
Minha audição,inteiramente concentrada,
Persuadia minha voz a estar calada,
Para outorgar-te a minha máxima atenção!
E,por vivermos nos amando desse jeito,
Eu me abrigava de verdade no teu peito
E tu moravas no meu grato coração.
Era um mistério! E ainda não sei por que motivo
Cada um de nós só se mantinha,mesmo,vivo,
Quando o outro peito lhe adequava a pulsação.
Em nosso amor jamais notei desarmonia!
Reinava em mim uma integral sinestesia
Que facultava-me o intercâmbio dos sentidos:
O teu perfume me evocava o próprio tato;
Eu te cheirava,contemplando o teu retrato;
E a tua voz mostrava cor aos meus ouvidos...
E,na carícia dos teus lábios,ao beijar-me,
Ao paladar me vinha o gosto do teu charme,
Junto ao calor em que nossa alma se despia.
Eu me entragava aos teus cuidados totalmente!
Teu belo corpo possuía a minha mente
E a tua mente no meu corpo residia.
Porém um dia...(e eu nunca soube por que causa!)
Tu me pedisteum certo tempo – estranha pausa!...-
Pra ter certeza se me amavas de verdade...
Discorde,entanto,amordacei a minha língua,
E me afastei sem expressão,morrendo míngua,
Não tão distante,mas já morto de saudade!
Eu,que,à tua voz,fiz minha vida palpitar,
Hoje,incapaz de introduzir-me em teu olhar,
Mal creio ainda que esse amor morreu assim!...
Mas,sem abraços,foi-se o tato do teu cheiro
E,tateando o meu molhado travesseiro,
Eu percebi que vim morar...dentro de mim!