Cereja

Entretanto, ainda sigo querendo-a

Mesmo sendo uma fugaz quimera;

Um calor que frio intenso sonega,

como mão abstrata, que nos pega,

o amor pega a gente e nos macera...

Mas, macerada, menta solta aroma,

Toma todos os ares de vasto quintal;

O mal sofrido revida com muito bem,

Afinal, aprendeu a dar só do que tem,

Assim, coração, faz o mesmo, tal, qual...

Contudo, esperança carece de alento,

O advento de uma nesguinha que seja;

Que veja um só movimento da amada,

Rompendo uns centímetros da estrada,

Pra trazer dessa torta a sonhada cereja...

Todavia, no céu vejo apenas as nuvens,

Sequer o arco de Deus, de tempo bom;

essa certeza incerta que ainda assoma,

é só a insegurança que as rédeas toma,

para pegar ao ruim, e fantasiar de bom...

Porém, esperança é um metal resiliente,

se refaz, qual o exterminador do futuro;

que a sina convide essa solitude e valse,

um dia a solidão ainda servirá de realce,

como às estrelas, realça anoite, o escuro...