Mulheres Desabrochantes
Rosas do coração,amanhecei mimosas
Nesta primavera de amor e canto,
Sede o orvalho de meu seio preciosas
E os cálices de rubra ceda do pranto.
Filhas do grande sentimento fecundado,
Do meu amor trinos de acalanto,
Os perfumes exalai do meu votado
Enleio,que esvoaça e sorri tanto.
Rosas do coração,amanhecei mimosas,
Para a festa do viver vos quero tanto!
Tudo semeie e encante vosso olhar, formosas
Filhas da esperança—esse ridente manto.
Se a desventura vem com rosto fero
Desfolhar-vos com tempestuoso vento
E nem ileso do chicote vero
Fica a flor azul do firmamento.
Se a solidão bradar feroz silencio
Enchendo de negros túmulos o espaço
Que importa?brota,oh! Tristeza de armistício
Entrega o mundo ao frio relento do cansaço.
Porém as rosas hão de ficar no peito
Com o cravo coração,de amores conversando:
Brotai, oh!rosas,não pode feroz despeito
Ou hórrida tormenta vos ceifar o bando.
Rosas,amanhã dos meus suspiros se enternece
Quando pensa em vós, e o halito evola...
Que harmonia! Que harpa cristalina estremece
Se em sons de asa vosso frescor rola.
Rosas do coração, mulheres despontando
Seus primos passos ao desabrochar do dia
Como tem magia vosso hino repicando
Nas nuas omoplatas da serrania!
Quero ouvir o vosso murmur brando
No ouvido requebrado de doçura fina,
Meu peito a esse afago sussurrando
Vos enchera de auroras e surdina!
Como é grácil, ledo o toque leve
Que o vosso coração imprime na alma!
Ai... a crença já se abala em neve
Quando vejo tanto amor e tanta calma.
E, no meio do transporte de ventura
Vem assaltar-me triste a incerteza:
Dar-me-á tão alto premio a formosura
E berço de esplendor da natureza?
Como de súbito o amor muda o semblante!
Ora o jubilo de enleio mais intenso,
O anelo esperançoso e delirante,
Ora o temor em que enlutado penso.
Rosas do amor, ao devotado amante
Daí a harmoniosa pétala do afago,
Que não pode encher-nos tristeza somente
Mas pode ampliar-vos o amor grato e largo.