Canção da Enamorada
Subita lisongeante
Surge no meu percausso
E do martirio que calço
Tece alpargata cantante
Nos flóreos pomos do espaço.
Rediviva aventureira
Asa de arrebatamento
Voa nos versos do vento
A majestade faceira
Pluma de memento.
Pelos vales da aliança
Do coração com a carne
Entretido alarme
Ave tesa na dança
Que o jubilo agasalhe.
Nas cidadelas celestes
Dos hinos hemisféricos
Dos pomos feéricos
Dos cantos terrestres
Dos encoxos líricos.
A mansarda de mel
Dos olhos da avetiza
Em ti a paz divisa
Do altivo dossel
Dos ecos de poetiza.
Cavalar insinuante
Lavada de aroma forte
Por ti quero a morte
De Afrodite com Marte
Por despeito de minha arte.
Balbuciar roçagante
De frases nuas ao léu
Argentea renda fina
Palavra que alucina
Meu flagrante escarcéu.
Vens tu dalgum bordel?
Tua fala doce de mulher
Põe bem-me-quer mau-me –quer
Põe glaucas aves no céu
Do alado bem-querer.
Alma de minha prece
Eu te sonhei deveras
No banquete de feras
Do mundo que endoidece
Ao largo de tredas eras.
Eu te amei nas esquinas
De teu corpo nos baldios
Os verdadeiros arrepios
Das lavas adamantinas
De teus gozares em rios.