O Cisne e as Pombas

Cisne cujo canto o rosal traduzes

Como a rósea flor a aurora resume

Sangra meu coração num poente de cruzes

Que a voz submissa do mel vaga –lume

Assemelha,luar poente fincado de urzes

Holocausto da flor que tragédia assume.

Tuas penas claras são um balsamo aromático

Gloria suavissima sobre os ecos da campina

Bailado lunar em tom melancólico e fantástico

Tristeza da alma jubilosa e divina,

Canto de farpas no horizonte estático

Ave pregada asa branca peregrina.

Rimas, ao coração perdido em atroz delito,

A cupidez ao mel da grande virgem doce

Estrela plumada cujo precioso rito

Retumba oboés de opala em leda prece,

O beijo albergou a asa do infinito

Como se colibri a alma da tristeza fosse.

Orda de pombas esculpe a ledice

Tarde odorosa de clangoroso movimento

Esses jogos de aurora recordam a meninice

Jogral de carne e sangue e sentimento

Vejo o teu logro, descompassada Ededice,

Das peladas da terra quis tornar-me isento.

Canto que ávida auroral da rosa povoas

Hino a unir a vaca ao peregrino acesso

O ódio varou com ímpeto as canoas

Naufragio frágil do universo teso

Poema, tu que a consolação pelo azul voas,

Sobrou teu verbo de horizonte ileso.

Fere adusto a asa do desenho no espaço

O vendaval que aos lírios desfolhou do peito,

Monstro lascivo a voar, atroz palhaço,

Domando as pombas do tesão de jeito.

A reclusão das plumas funde o mel ao aço

Da melancolia péssima do vivedor eleito.

Cisne a cantar lirismos entre magoas

O homem mal escarra no gesto suave

Das primaveras inaugurando as águas

No par ideal do mel que funde a ave

A outra ave,ata a concha as adagas,

No riso derretendo o alento grave.

Pombinha do amor que revoaste atoa

Na fome admirada da novata rola

Lua iluminando o fausto da lagoa

De um falo alucinado que o mel atola

Parte no dossel da flauta que voa

Mendigo do afeto,pede aos corações esmola.

Para do falo do cisne tecer alva gloria

A pomba desnudante o seio escancara

Que os gozos eternos te fiquem por memória

Dupla ave ígnea que os orgasmos inaugura.

Os dois tesos na asa da paz altiva e sonora

No berço do azul da alta cantiga meritória.

Deusas são as aves a fundirem-se ledas!

O eloquente prazer inspira a liberdades

Desde os virginais lampejos primos dos medos

Ate o bacanal orgíaco das sensuais vontades.

Divinas balsas na ampla lagoa dos segredos

Tear ígneo da santa e luminosa beatitude!

O caçador furtivo espreita-se em neblinas

Chama-o o eco sonoroso da lírica serenata!

Adeus,oh albergue extenso das colinas!

O carrasco do amor eivou com suas setas

O canto ditoso e ledo das azuis boninas

Adeus,oh pomba do amor, amante correta!

Eis que assoma pela nudez do vale o pranto

Sangra o alento no furo do vaso puro.

Ave doa mor que o coração amou tanto,

Nas confissões da esperança, qual futuro?

Voa pro alem,ferido de despeito,o alento_

Eis que o mel lunar se fez tredo e obscuro_

Ouve o cisne o ressoar da rosa eterna

Em seu canto de amor dêsmedido e puro

Abala o amor os baixos baluartes da terra

Da matéria à flor, metal inculto e impuro,

Ouve, e no diamante de sua revolta guerra

Tece o pranto doce,mel lírico do louro.

--Pomba amorosa e desmedida dos amores

Que o céu da terra deste aos meus anelos

Vive no Paraiso,circulo de brandas flores

Musa inaugural do néctar dos meus desvelos.

O galho estala, coração entre os rigores

Dos cismamentos de nossos momentos belos.

Nem na terra vil,nem no altanado espaço,

Nem no êxtase inerte nem no movimento,

Encontrara meu ser ao desconsolo de aço

Da seta adusta do caçador, novo memento.

A alvorada era um poente ao meu cabaço

De amor e de esperança foi teu intento.

Eu te recordarei,quer no lodo,quer nos astros,

Pomba de meu amor,rosa dos ventos,

Brilhe o ouro em letras puras de alabastro

Para albergar meu sentimento imenso—

E assim o cisne ,bem amado e miserando

Entre plumas e ouros de amor morre cantando.