Rabiscos

Se temos estes espaços brancos

Entre nós, sempre nos separando

De tanto abusar de sermos francos

Que deus estamos, afinal, venerando?

Porque não colorir o silêncio de tantos

Sonhos e desejos que afogamos?

Sabe, somos aquilo que indagamos

Nunca quisemos, enfim, ser santos

Podemos voar mais alto por esse céu

De estrelas, nuvens e tolas esperanças

Podemos dormir todos os dias ao léu

E ter em linhas tortas nossas andanças

Sermos o que somos por inocência

Não dever a credos ou à ciência

Por saber, assim que te vi sorrir

Que me doeria te ver partir

Se fecharmos nossos olhos ariscos

E esquecermos nossas coisas distintas

Podíamos transformar papéis e tintas

Em corações repletos de rabiscos