Desta singela capela, resta um catedral em ruínas



Desta singela capela,
resta uma catedral em ruínas.
Nada importa no passado não vivido
se o futuro se revela imperfeito.
Ainda que não exista uma verdadeira esperança,
da poesia talvez reste letras e cor...
A alma fenece em decomposição poética,
e a rima albergue é o cárcere do peito.
Não há terra firme,
as veredas insinuam um mar revolto.
Cada história tem um tanto de beleza,
mesmo quando vive à margem
de um sentimento perdido ou esquecido.
À parte disso,
sequer sobrevive uma vã esperança maldita.
Para que escutar tantos silêncios?
Eles já não falam.
São o afã de nada...
Não sei o porquê,
mas não há surpresas.
Se existe chuva
que encobre o sol sorrateiramente,
os sinos não tocam mais,
não chamam o fiel incrédulo.
A sinfonia da vida perde homília,
e a boca não quer mais aquele beijo,
prefere desesperadamente um café...
O amargo da língua virou o melhor sabor!
O coração questiona incerto
se exato já não se sabe quem é.
E o que há de vir
quando o tempo pára?
O peito está perecível
como quem deseja ir em frente
mesmo sem saber andar.
Para que ser homem?
Melhor é ser menino que sabe chorar.
A lágrima dói,
mas passa rápido.
O tempo é agora,
e nele é possível ser maior.
Sozinho no mundo ninguém cresce,
até porque o bem só se busca juntos.
Quando a solidão se curva diante de si,
entendendo olhares à esmo,
o amanhã não permite mais,
por ser hoje menos e menos.
A alma não se encontra além dos muros,
e o que é mais imenso
senão o amor quando faz sentido?
Mas talvez ele nunca faça sentido...
Quando a vidraça se quebra,
faz da dor que excede
uma lágrima que seca e transborda.
Sem telhado e luz,
em vão juntar pedaços...
A vida é um prado onde correm sentimentos,
e se cada dor for uma estrela cadente,
faça seu pedido de luz.
Como menino que acredita nos sonhos
peça para adulto saber chorar.
Onde se está pouco importa,
é preciso saber para onde ir,
mesmo que não tenha onde chegar.
Deve-se levar todo o amor que puder,
e o que não puder,
levar em sonho consigo.
A viagem do amor nunca termina,
até mesmo quando chega ao fim.
E no abraço aprender a morrer,
já que o café mesmo amargo,
é o sabor que não se pode vencer.
É o medo,
é o travo,
da amargura por alguém.
Quando a tristeza fizer mais bem que a alegria,
aprenda a ressuscitar.
Não importa se irá morrer de novo,
já que vive eternamente quem nasce para amar.
Passar os dias a entender-se,
porque talvez só dentro de si
se encontre o que queima como chama
e desmorona como ruína...

 
Tarcisio Bruno
Enviado por Tarcisio Bruno em 20/09/2016
Reeditado em 20/04/2018
Código do texto: T5767371
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