Desculpe-me,
mas sou apenas humano.
Não,
eu não caibo em teu Olimpo.
Não desejo aprender a ser um semideus.
Como cego preso em castelo inexistente,
fico a tatear esperanças mortas.
Bebo de tua água sagrada,
ainda que em uma masmorra de desilusões.
Não perdi a sede de viver,
embora seja apenas Rei de mim
e um plebeu de tua dor.
A tua coroa de rubis maravilhosos
parece um espinho a sangrar-me a alma.
E neste precipício vermelho de tuas vaidades,
apenas meu corpo encontra o abismo indesejado.
Na liturgia que descerra a vida amiúde,
meu peito se faz absorto em cada estação.
É como beber um absinto de ervas sentimentais,
para em assomo embriagar-se e despir-se sem sobriedade.
Quando o coração vira o Deus Apolo,
pareço escutar a primavera Afrodite,
mas perco-me por entre flores que não me chegam,
e feneço na fragrância sem conhecer o bálsamo perdido.
Chega o inverno intenso e frio,
e apesar de plagear Poisedon,
acabo náufrago!
Afogo-me em terríveis lágrimas inditosas.
Com o outono viro cinzas que pesam no vento,
mas encontro a companheira resiliência,
que na expiação d'alma ensina-me a ser Fênix,
para no verão reencontrar a poesia Hera.
E todos os deuses me ensinam suas falibilidades,
já que a onisciência é única,
a onipotência é ímpar,
e a onipresença de um só!
E nesta trindade que é a força suprema que me rege,
vou aprendendo no vácuo de minhas incertezas,
que as estações passam e retornam,
começam com o tempo novo,
e terminam para um novo tempo.
Desculpe-me,
mas sou apenas humano...

 
Tarcisio Bruno
Enviado por Tarcisio Bruno em 28/09/2016
Reeditado em 18/07/2017
Código do texto: T5775537
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