O delito sagrado do esquecimento
 
Do peito que sangra aberto
com o sentimento que se faz envolto
resta a clemência da mudez
como indulgência d’alma
E faz mudo o tremor das artérias
quando o coração chora festivo
o que inunda o peito
Talvez a lágrima que excede em sofrimento
seja o preço caro e único
da alegria que não se mereça
Talvez!
A retina é um cristal sonoro
na canção que canta o amor
ainda que em silêncio absurdo
e dor no plural
A poesia é um sentimento em palavras
e é um sentir altivo
de quem cuida em amor sublime
apesar da ausência deveras sentida
e mesmo que absorto em desesperança
Como será o dia de amanhã
quando não existe o hoje?
Como será?
E se ontem foi uma noite que não terminou
há um tempo que não passa
e imperfeito busca ser eterno
para crucificar na própria dor
Mas amor não é tirania no peito
já que perfeita virtude
até mesmo quando imprudente
Quando o coração em chamas resta derretido
ele fala com água que verte ardente...
Porém o tempo não pode ser inimigo
pois é Deus do nascimento e da morte
e também da ressureição
ainda que seja para de novo crucificar
Comete o pecado sacro da lembrança
mas também o delito sagrado do esquecimento
E a dor que faz viver matando
um dia morre para fazer renascer
o sol que do peito trará amores
para sepultar a noite no passado
E o plebeu que em insônia
hoje chora suas dores 
encontra outro amor para ser coroado
Porque a princesa passa
mesmo que seja ela única
Mas não passarão os sonhos
que vão e vem
trazendo as asas do sentimento
E a melhor quimera
que é o reinado do amor
encontra nova majestade
Ainda que desnecessariamente
em outro rosto
de sorriso branco 
e de sangue igualmente azul
 
Tarcisio Bruno
Enviado por Tarcisio Bruno em 15/10/2016
Reeditado em 15/10/2016
Código do texto: T5792855
Classificação de conteúdo: seguro