Sol em Libra

em meu espírito o sabor do seu olhar

gosto indecifrável de gestos indecisos

o céu te fez diabo para me provocar

devastar meu paraíso

esse céu da sua boca quis explorar

ascender estrelas do mar desse vício

você desfez de mim, me infernizou

me escravizou do seu piedoso não

viajei, me extraviei, caí na sua

comi na palma da sua mão

vazio de esperanças não me pus de pé

quando me largou sem chão

busquei me afirmar com sins em outras bocas

que me comiam de todo e qualquer jeito

em tantos mundos que eu não sabia

dentes me mastigavam em risos sonsos

línguas me lambiam sem falar minha língua

talvez fosse a língua dos homens, a língua dos anjos

que sem amor nada foram, nada seriam

há abstinência, saudade da tua linguagem

tua mentira, tua malandragem

tua hipocrisia, tua vaidade

teu sol em libra, tua futilidade

tua oscilação, tua balança

tua confusão, tua temperança

te levei a sério nessa brincadeira

de me fazer refém da sua lábia

levei ao céu preces e rezas

para me livrar do desejo do seu lábio

fiquei distante do meu riso

meu sonho um rio raso

para lavar os teus pés sujos

onde você por medo inútil

preferiu ficar à margem

e eu nem fugi da mira da sua arma

vendi minha alma

vendo sua miragem