Eu teria amado,
Não fosse o caos.
Não fosse a dor,
A lágrima, o pudor,
O amém, aleluia,
O jejum de sete dias,
O púlpito das almas.
 
Eu teria amado,
Inconsequentemente,
Indiferente ao mundo,
Ao que pensam, como agem,
O que comem, aonde vivem,
Como se vestem, do que se alimentam,
Eu teria amado os momentos,
Até os maus momentos.
 
No lugar onde o raio
Cairia pela segunda vez,
Onde o mar revolto se mostraria,
Onde a lua se viraria
Para o lado do sol,
Onde os carros passariam
Sobre os corpos distraídos,
Eu teria amado,
Sem fazer o menor sentido.
 
Eu teria amado tragando a alma,
Faria de meu corpo um amuleto,
Teria amado em cores
Ou branco e preto,
O sujeito e o predicado,
O certo e o errado,
O lado oculto da face,
Teria amado o disfarce do riso
Nos lábios sedentos de sonhos.
 
Não saberia se futuro ou passado,
De nada importaria a noção de tempo,
As horas encolheriam a qualquer momento,
Os pensamentos passariam,
As águas seguiriam
Os passos dos melhores desejos.
 
Com ou sem beijo
Eu amaria a boca.
E louca, loucamente,
A voz serena
Da pequena criatura
Soprando devaneios
Sobre os seios brancos e desnudos.
 
Eu amaria o nada e o tudo,
O lógico e o absurdo,
Sobretudo o que não faz sentido,
Quando o que se sente é mais
Do que a gente jamais sonharia.
 
Eu teria amado,
E no dia em que fosse
Também amado plenamente,
Roubaria as asas de um anjo
E lhe daria de presente.
 
Mário Sérgio de Souza Andrade -    28-12-2016
 
MARIO SERGIO SOUZA ANDRADE
Enviado por MARIO SERGIO SOUZA ANDRADE em 28/12/2016
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