Pássaro
Com que ânimo me deleitarei,
agora, moribundo, que das cinzas me transfigurei
e me sufocam as palavras que a ti não entreguei?
Tu, que me rompestes as represas,
conhecestes as minhas fraquezas,
por que tinhas também de judiar das minhas certezas?
Se era somente um bem sem fim,
era mormente puro qual querubim
o tesouro cujo esplendor
a tua visão distraída não alcançou...
Meu amor tão pungente de vinte anos,
para sempre uma fortuna intangível.
São corrosivos seus desejos insanos,
um tiro certeiro, uma espada infalível.