Cantando no Céu
Quando não existir mais nada,
Me deixa apenas uma escada para eu subir até os céus.
E lá quero ver mil portas,
Sem trancas de ferro ou cismas,
Sem placas interditando a passagem
Dos meus sonhos inocentemente pensados.
Quero entrar no teu mundo,
Me ver sitiado por asas ruflando em cabides aéreos.
E te ver num musical dos anos cinqüenta,
Com o guarda-chuva de Gene Kelly e dançando Broadway Ballet,
Marcado docemente pelo aplauso dos anjos.
Lá, São Pedro, bilheteiro, distribuindo ingressos,
E Deus, de folga, numa poltrona, ao lado de Chaplin,
Assoviando com vento danado e fazendo voar
O chapéu de ganso da Virgem Nossa Senhora.
Quero chegar a tempo e sentar na primeira fila.
Quero sentir teu perfume e as notas do teu canto.
Quando for a hora de não existir mais nada,
Prometo acordar mais cedo e te ver ainda no camarim.
Vou te dar as flores que eu colhi na esquina do meu primeiro sonho.
Vou aplaudir...
Vou sorrir...
Vou chorar...
Vou te esperar sob a chuva de elogios...
Quero te ver descer degraus de nuvens.
E te ver partir numa carruagem...
Vou apanhar o teu aceno e guardar no bolso da camisa
A marca dos teus lábios.