*_ UM CANTO, NUM QUARTO DE UM TEMPO...

Ele se tornou uma face irresistível, e ela não seria capaz
de fugir do rosto que povoa seus desejos.
Uma vontade frenética a invade.
Ela sente que os pequenos movimentos do pano da
cortina estão deixando penetrar lentamente o vento pela
janela.
Ela cochila em sua cama, silenciosamente.
Deitada na parte de trás, o corpo quase completamente
coberto com um penhoar de seda.
Um braço e uma porção de sua perna direita permanecem
no entanto ao ar livre.

Quietude.

Ele entra no quarto e se aproxima dela.
Este homem quente da noite oferece-lhe seu perfume
lenhoso, perfume que invade sua alma.
Ele se aventura a colocar a mão em seu braço direito que
permanece descoberto.
Como quê, dizendo estou aqui...
Num primeiro momento de surpresa ela pensa, em
responder, mas rapidamente entende que ele é parte dos
seus desejos.
Ele se senta numa poltrona lilás, a observa-la.
Ela vê seus olhos castanhos quase negros brilharem sob
a restia de luz do lampião a querosene...cabeleira vasta...
Era meados de 1867...
É quase um toque, um toque de carícia, um raio de sol
que paira sobre sua pele.
Ela então joga-lhe um sorriso cúmplice.
Ela Gosta de ser uma fonte de inspiração, para viver essa
cumplicidade particular entre a musa feminina e aquele
que expressa sua arte através das palavras.
Que orgulho existir através dos olhos de um homem.
A fonte a qual ele bebe para criar o amor...
Ela própria materializa em sua cabeça todos os sabores
que nasce nele.

Estamos sozinhos no mundo, neste espaço de tempo onde,
a realidade encontra a eternidade...