MENINAS DE SONHOS ROUBADOS
Um dia minha comadre me telefonou,
Compadre neste domingo não vou lhe visitar,
Porque a minha empregada viajou.
Antes até dia de domingo ela vinha trabalhar.
Mas veio o PT compadre!
Que lhe deu férias, FGTS,
Até licença maternidade,
Tem também o PIS.
Bom era de primeiro compadre,
Você ia ao interior e adotava uma cabrita novinha,
Dizia a comadre que ela vinha estudar na cidade,
De dia trabalhava, a noite ia para a escolinha.
Ali sim trabalhava!
O pagamento era um prato de comida,
Varria, lavava, passava e engomava,
E nunca reclamava da vida.
Engano seu comadre,
Ela muito reclamava,
A senhora até brigava com o compadre,
Lembra do quarto onde os cacarecos a comadre guardava?
Lá dormia aquela cabrita novinha.
Comadre sabe quem lhe tirou a virgindade?
Não foi o seu namorado, porque ela não tinha,
Foi o compadre que a estuprou sem piedade.
O compadre foi uma noite ao quarto dos cacarecos,
Onde todos chamavam de quatro da empregada.
Lá ela foi seviciada, aos muros e solavancos,
E por todos os “machos” da casa, por muito tempo usada.
Como essa pobre coitada que a comadre chamava de cabrita novinha,
Muitas delas vagavam pela cidade,
Quando jogadas nas ruas pelas mesmas patroas boazinhas,
Quando descobria que os patrões a tinha.
Peniqueiras, chofer de fogão,
Abandonadas eram amor de recrutas
Homens que muitas vezes lhe davam o coração,
E lhe tiravam da vida de putas.
Algumas voltavam para o interior,
Outras se jogavam da varanda dos grandes edifícios,
Pois não suportava a humilhação e tanta dor,
Deitar com o patrão e seus filhos não era o seu ofício.
As que voltavam para o interior,
Abusadas e com a marca da humilhação na alma
Voltavam se sentindo ainda mais inferior,
Pois na barriga carregavam os seus diplomas
Era o filho do patrão sem alma
Que pela vizinhança ao nascer
Era apelidado de diploma
E a cabritinha novinha via seu sonho padecer.