A Moral da Alcova

Pelas ânforas de cristal do hemisfério mago

Soa o colibri

Cujo rutilar de aroma neste instante magno

Asas de opala ri

Dos vitrais de meu peito diviso o mundo

Embate e encanto

Todo me enreda em vórtices espirais de canto

Na escadaria social.

Que outros busquem a gloria tesa do poder

Eu sob a faina grato

O verso que me enche a alma transparente

Enfloro nato.

O detalhe é o condor amoroso transcendente

Das filhas de Vênus

Quer o poema triunfal de amores somente

Que dados nos amemos.

Aligero tropel de alasões de flamas bravas

Almejem o trono;

Eu, co eco do sonoro espírito das águas

Erro no leme

De meu destino,que sem nada de melhor escolhe

Amor cujo nome

Voa nas asas do bem te vi da vertente lírica

Do oceano enorme.

Que os deuses cantem em teu proveito e louvor

Lucido amor,

Tu revelador do universo da poesia,ledo albergue,

Nos corações em flor.

Roxa aurora, de ecos suavissimos matizada

Palato heroico

Brada no coração por tua lírica ramada

Acento grato.

A peregrinação do Fauno pelas ancas de Vênus

Rosais espalha

Cavalga o serralho, o verbo quer que amemos,

Lirico agasalho;

Pelas urnas feminis da festa dos gemidos

Redonda danças

A tarantela dos desejos rubros,incendidos,

Triunfo de aromas;

Berço a zelar os Zefiros do infinito

Capras redomas

Na triste catedral de meu desejo aflito

Desesperado,atroz,

Não mais crispa-se o silencio abandonado

Do eco sem voz.

Nas clareiras da mata de lúcidos gemidos

Geme o luar

Tangendo a lira dos desejos comovidos

Prenhes de mar.

Sobre o rochedo do desengano a ave

Princesa florescente

Nada no tubarão de hinário de mel audaz,suave,

Na tarde do poente.

Para o firmamento dos sonhos encastelados rumemos

Teu sexo a mão

Nas asa de colibri de teus alados pomos côncavos

Na convexa canção.

Coxins de aves sonorosas de langor prestante

Na cama de amar

Galguemos juntos nos corcéis de fálico mistério

Da segredada a par

Gruta que desvelas,cavalgando jubilo profundo

A seta desnudada

Que na amplidão do plectro de amar estua

Ave comovida

Nos mínimos detalhes do metro viceja nova

Aurora amante

Vindo ovante naufragar no orgasmo da hora

Eterno instante.

Aos parques da memória rumar em atropelos

Ebrios a sacralizar

As furnas cujos beijos de adejos exemplares

Urnas libadas

Ainda úmidas talvez de outros lupanares

Plenas de proveito

Hão de desaguar no labirinto das escadas

Satânicas jornadas.

Os anjos caídos ao pé do dano que os lacera

Na estância bela

Não conhecem como, n´os a orgia dos partidos, pantera,

Anjo em fera,

Infiel cuja voz argêntea soa o doce violino

Lateja o destino

De nossos corpos entregues a lírica estratosfera

Tristes na esfera

De mesmo na volupia aterra não ser perfeita

Infante eleita

Ao estro do bardo cuja sorte é uma maldita

Erança da carne.

Sobre esse colchões, coxins de mel sanguíneo e triunfal,

Beijo-te a aurora

Da boca reveladora do anjo em lúbrico animal

Cruel amadora

Que cobraste caro o gratuito vinho venusiano

Gemido magano

Eco capaz de tronar a eflorescencia leda do ramo

Em musselinosas

Harpas de ideal de teu semblante quase infantil

Arfando febril

Reveladora a trompa da nobreza entre o violoncelo

Do afago belo

Por volupica cadela pondo no balé wagneriano

O Thanhauser ufano

Do chulo palavreado,ilha onde decerto desaguara

Em morte má,

Teu coração unido ao meu, sob a paleta marmórea

Da pele flórea.

Teu seio arfante de amor após os esquadrões

Algidos grosseirões

Revela que a divindade de Eva é uma corja

Na sanguínea forja,

Bigorna do prazer, a cada renovado amante

Se refaz possante.

E o que tenho eu feito da vida incumbida

Enquanto fodida

Gemia minha musa ao toque do tropel do acaso

Não frágil vaso,

Eu o macho orgulhoso no limite bem demarcado

Do falo irisado

Das radiações pontudas de pimenta e diamante

Que a fêmea permite

Lhe adentrem toda a convulsão que geme

E toda freme?!

Que fiz eu,enquanto fizeste,musa,de tudo?

Destino sanhudo

Deus imortal conduzindo meus passos mortais

Flora de carnavais

Acaso não me há levado ao parque da castelã

Castidade vã

Cujo supremo orgulho era eu não ter triunfado

Do beijo molhado:

Qual virgem meninilha de família,reduzido

A ser de ti possuído

Assim logo a primeira rendido a vossos pés

Tu bem o vês,

Qual moça irrompendo o prazer entre licores

O adeus aos pudores

Portei-me eu, o macho, o forte, o sedutor altaneiro

No albergue verdadeiro

Da natureza letal da tua carne audaz deflorada

Rosa colhida a beira

Dos êxtases masturbados da estrada de meu pranto

Pranto de dó fecundo.

Mas bem haja a louca,divina,banal aventureira

Na vez primeira,

Bem haja a mesma louca renovada por toda a partida

Amor que é vida,

Fecundou meu coração do aço da rima ardente

Lubrica vertente

Ano após ano renovando o pacto com o diabo

Deus constelado.

As erupções do amor hão preenchido a sina

Graça feminina,

Os beijos de fogo hão aplacado o deserto atroz

Solidão sem voz

Do másculo egoísmo,perdido pela pomba-gira,

Leão que delira,

Efloresceu o pássaro de amor da garganta,pomo

De Adão no assomo

O estalo dos lábios redentores de afeto humano

Femineo arcano.

Após a primavera tonta e transviada

Punheteira desesperada

Após os Agostos do orgulho pisado ,do amor magoado

De bruto estado

Converteste em radiante,glorioso hino triunfal

No seio estival

Da amada,que hoje,rebentando o polo em prazer

Me faz renascer.