Liber(t)e o amor pelo seu corpo
Uma dia uma feminista,
Dessas que gostam de chamar de exagerada,
Me questionou:
Já parou pra pensar por que você se depila?
A resposta foi mais do que rápida:
É porque assim eu me sinto bem.
A frase foi desembuchada da boca pra fora,
Mas de certa forma, talvez até inconsciente
Ficou sem resposta.
Vez ou outra voltava a perturbar a mente.
Porque assim como tantas outras mulheres,
Alguns dias não me depilava,
Não por ser acomodada,
É que o pelo em si não me incomodava.
Ele não fedia, nem cheirava.
Mas quando ia sair as pressas
Usava blusa longa e calças,
Ou então se queria saias,
Corria passar a navalha.
Áspera e seca,
Cortava mais que pelos,
Cortava minha vontade própria
E quem eu realmente era
Entre as paredes de minha casa.
Passarem-se anos para encontrar a resposta
Que deveras estava bem na minha cara:
Eu não me depilava porque me sentia bem
Mas sim por medo de que a sociedade,
A mesma que a propósito
Criou o conceito de feminilidade,
Estivesse certa ao dizer,
Que ou você segue os padrões,
Que dia após dia te oprimem de forma velada,
Ou você não é mulher de verdade
Ou você não é nada.
Mas a conjugação dessa prosa está no tempo certo
Ao dizer que eu me DEPILAVA.
É libertador ver hoje cada pelo crescendo no meu corpo,
Sem medo de olhares com nojo.
Os olhares ainda existem,
E sou constantemente apelidada:
Nojenta, peluda, desleixada.
“Vai tirar esses pelos, vê se cria vergonha na cara”.
Mas esses insultos não me ofendem,
Porque você e eu, mulher,
Não precisamos que ninguém nos diga
O que é preciso para ser
Quem na verdade já somos.
Chega de ser silenciada,
A história é nossa
E é por nós que ela deve ser contada.