Liber(t)e o amor pelo seu corpo

Uma dia uma feminista,

Dessas que gostam de chamar de exagerada,

Me questionou:

Já parou pra pensar por que você se depila?

A resposta foi mais do que rápida:

É porque assim eu me sinto bem.

A frase foi desembuchada da boca pra fora,

Mas de certa forma, talvez até inconsciente

Ficou sem resposta.

Vez ou outra voltava a perturbar a mente.

Porque assim como tantas outras mulheres,

Alguns dias não me depilava,

Não por ser acomodada,

É que o pelo em si não me incomodava.

Ele não fedia, nem cheirava.

Mas quando ia sair as pressas

Usava blusa longa e calças,

Ou então se queria saias,

Corria passar a navalha.

Áspera e seca,

Cortava mais que pelos,

Cortava minha vontade própria

E quem eu realmente era

Entre as paredes de minha casa.

Passarem-se anos para encontrar a resposta

Que deveras estava bem na minha cara:

Eu não me depilava porque me sentia bem

Mas sim por medo de que a sociedade,

A mesma que a propósito

Criou o conceito de feminilidade,

Estivesse certa ao dizer,

Que ou você segue os padrões,

Que dia após dia te oprimem de forma velada,

Ou você não é mulher de verdade

Ou você não é nada.

Mas a conjugação dessa prosa está no tempo certo

Ao dizer que eu me DEPILAVA.

É libertador ver hoje cada pelo crescendo no meu corpo,

Sem medo de olhares com nojo.

Os olhares ainda existem,

E sou constantemente apelidada:

Nojenta, peluda, desleixada.

“Vai tirar esses pelos, vê se cria vergonha na cara”.

Mas esses insultos não me ofendem,

Porque você e eu, mulher,

Não precisamos que ninguém nos diga

O que é preciso para ser

Quem na verdade já somos.

Chega de ser silenciada,

A história é nossa

E é por nós que ela deve ser contada.

Aline do Amaral
Enviado por Aline do Amaral em 19/06/2017
Reeditado em 19/06/2017
Código do texto: T6031940
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