Amar

Você está nos brincos

Que há anos não tiro das orelhas.

Você está nas prateleiras e corredores

Do mercado quando faço compras.

Você está na mistura suave

De cheiros no banho quente.

Você está no pijama velho

Com cheirinho de amaciante.

Você está no cabelo molhado

A umedecer o travesseiro aconchegante.

Você está nas letras que escrevo

No vidro fosco e embaçado do box no banheiro.

Você está na mão amiga

A me acariciar os dedos.

Você está no teatro barato

Que aos fins de semana eu frequento.

Você está na faixa de pedestre

Que atravesso apressada.

Você está na voz de pessoas

Que ouço falar muito sem dizer quase nada.

Você está na grama do parque

Que costumo deitar no domingo a tarde.

Você está em atividades simples

Que desenvolvo no "freela" de fim de mês.

Você está no café

Que o copo térmico não mantém quente.

Você está nos ponteiros do relógio

Que correm sem que as horas passem.

Você está no pão com ovo

Que por falta de tempo me serviu de almoço.

Você está nos detalhes

De projetos que desenvolvo para a universidade.

Você está no cheiro do cigarro

Que há um mês não fumo nem sequer um trago.

Você está no copo de cerveja

Que me deixa bêbada na madrugada de segunda-feira.

Você está na história engraçada

Da mão machucada.

Você está na falta de sono

E na sensação de abandono.

Você está nas memórias distantes

Que me atormentam no agora.

Você está em cada palavra

Da minha incansável insistência

Em permanecer calada.

Não entendo como a mente funciona,

O que ontem era nada,

Hoje, meu bem, veio a tona.

Sentimentos atrofiados em minhas entranhas

Parecem cercados por muros e montanhas

Que como se fossem feitos de vidro

Não me permitem tocar,

Mas não me impedem de ver que você está.

Está em mim, mulher.

Está no peito.

Está na falta de ar

Contida no peso daquele verbo com 4 letras

Que por medo eu não tenho coragem de falar.

edit 05/09/2017 23h58:

Você está nas paredes cinzentas

Da empresa enorme à qual fui fazer entrevista.

edit 30/09/2017 15h53:

Você está na brisa do mar

Que eu aprecio solitária a espera de paz.

edit 01/10/2017 17h49:

Você está no fim de tarde

Que belo e melancólico compõem uma estranha dualidade,

A mesma que me atortamenta

Ao lembrar teu corpo, tua alma, tua face.

edit 03/10/2017 12h06:

Você está em tanta coisa

Que as vezes olho para o lado

Num último suspiro de sanidade

Que de forma angustiante

Me esfrega na cara a realidade

Que ter você em mim

Está bem longe de ter você comigo.

Aline do Amaral
Enviado por Aline do Amaral em 04/09/2017
Reeditado em 03/10/2017
Código do texto: T6103858
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