(SEM TÍTULO)

para Márcia

Escrevo os hieróglifos da paixão e mapas do tesouro na sua pele.

Rabisco palavras incompreensíveis no seu corpo inteiro.

Ideogramas brotam de seu púbis,

Deixam-me com ar interrogativo e com sede intensa de seu sexo.

Invento novos alfabetos, estampo seu corpo com todos eles.

Decifro escritas enigmáticas na sua íris,

E no caminho de seus seios deságuam línguas mortas há cinqüenta séculos.

Mapeio-a em busca de explorar seus sentidos.

As linhas, os pontos, as setas, as cores insinuam-me os pontos cardeais

Que me perdem, que me desorientam, que me desnorteiam.

Nos seus braços, nas suas coxas, no seu rosto

Há o atlas dessa minha paixão desvairada.

Como a magia noturna das cidades, eu a vejo:

Luzes, semáforos, outdoors, placas luminosas

Acendem seu corpo em raios faiscantes que me fascinam.

Entre a neblina de seus olhos e a macieza das palavras que brilham em você,

Eu me posto.

Minhas unhas arranham sua pele, buscam descobrir um relevo,

Uma luminosidade diferente nos estranhos caracteres que eternamente

Transformam-me num arqueólogo de seu amor.