Poema eu!

Eu sou pássaro triste

Voando na amplidão

Sem conforto e sem alento

Ou preso em um alçapão

A tristeza é minha amiga

Meu ninho é a solidão

Eu nasci antes do tempo

Cheguei na hora errada

Num dia de lua cheia

Em tempo de invernada

O rasga-mortalha cantava

Dando sua tesourada

Eu sou a estrada sem fim

O caminho desprezado

Eu sou a arvore sem sombra

Sou um cão abandonado

Sou um esmo deserto

Que nunca foi explorado

Sou um lado sem água

Sou um rio que secou

Sou a flor desbotada

Que no galho já murchou

Sou espelho sem brilho

Que já se despedaçou

Sou a lareira sem fogo

Pedra no meio da estrada

Sou a erva do caminho

Que por todos é pisada

Eu sou a voz sem eco

A palavra não falada

Eu sou o desprezo de todos

O desgosto de alguém

O livro que não se lê

O remédio que não tem

Eu sou a trilha errada

Nela não anda ninguém

Sou os escombros da vida

Sou a palavra errada

O inverno fora do tempo

A seca não esperada

Eu sou a safra perdida

Eu sou o resto do nada

Eu sou o curral sem gado

O chiqueiro sem cabrito

Sou a manada de ovelhas

Que se perdeu por um grito

Eu sou o que não se fala

Aquilo que não foi dito

Eu sou um dia treze

Dia de superstição

Por isso eu sou assim

Sou dia de ilusão

Só chego fora de tempo

Ninguém me da atenção

Mas se você quiser

Quebrar essa tradição

Não dê ouvido ao mundo

Me entregue o seu coração

Deixe o mundo se danar

Só quem ama tem razão

Zé Bezerra o Águia de Prata
Enviado por Zé Bezerra o Águia de Prata em 25/09/2017
Código do texto: T6124175
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