A gatinha Zaratrusta

Verdes, são os seus olhos,

Amena, é sua vida,

Que passa, lambe, dorme,

A gatinha que o coração coça, que faz troça,

Zaratrusta, o seu nome poderia ser,

Seu miado, doce e pedinte,

Ora quer carinho, ora quer requintes,

Quer calor, embalinhos, cochichos,

Sossegada, sem todo o seu instinto,

Tampouco quieta, ainda é à si mesma,

Passa o tempo, e seu espaço no tempo,

Passam os olhos, cansados, entediados,

lentos,

Mas sempre os olhos, fixos, cores fortes,

A gatinha das sombras, da noite,

Dos bocejos, das brigas,

Zaratrusta, poderia ser o seu nome,

Mas se chama amor, carinhos, preguiça,

Ela sabe viver como ninguém,

No doce balanço da vida,

Dormindo, comendo, caçando,

São os seus planos, retas, esquadros,

No sol da manhã, esquentando os pelinhos,

No descanso da tarde, se espreguiça todinha,

Na noite, os faróis mais acesos,

Na liberdade, de quem não persegue o tempo,

Ainda coeso,

Não anseia pelo porvir,

Não espera que o vento...

Apenas vive, e o presente, de desejos,

Que se realizam todo dia,

No simples, fácil de ter, de embalar com as suas patinhas,

Felina, primitiva sabedoria...