Guardiã de Versos

Pertencem a ti, com direito a registro,

os versos que não me saíram à luz,

e ficaram maturados dentro do meu pensamento.

Restaram blandícias para a reconstrução do teu ego

e pares de violinos para qualificarem o meu canto.

Venceu-me o teu olhar de oceanos glaciais

esparso em um atol onde os pássaros pousam e descansam

em suas transmigrações para ilhotas vizinhas.

Ó cordilheiras espreguiçadas com seus dorsos de dinossauros

vela-me o sono que a noite já não tarda, o vento gélido se antecipa,

e enregela-me a alma - que até agora não foi mencionada

porque primeiro ela apura os fatos e depois rumina-os –

sangrando a flor da lira como se fossem rodelas de abacaxi.

Não armei minha tenda sob este céu crivado de estrelas

nem me prestei ao auxílio de mapas para saber o quadrante que ocupo,

mesmo sendo variáveis meus planos horizontais e verticais,

pois me locomovo como o pastor que apascenta poesias-lúmens

no campo ardiloso tomado de lobos siderais.

Porém, a noite é hospitaleira.

Guarda consigo o meu grito à Humanidade,

enquanto sou pescador de sonhos e faço coleção de pássaros canoros

e tens meus versos refugiados em ti.

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 24/11/2017
Código do texto: T6181297
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