Amor

Orvalhei ao teu lado com os teus braços preenchendo-me em ombros.

E nem a incerteza insensível, nem a desenlaçada despedida conseguiam experimentar os caprichos de um qualquer e irónico triunfo.

Uma areia de um ouro

secreto

percorria então os teus olhos de querubim infinito.

Depois…

Revestias as tuas palavras com o cantar luminoso da ave e repousavas-me um suspiro macio no peito.

E quanto eu, percorrendo a multidão dos sonhos, me conciliava com as pétalas profundas da eternidade!

E quanto eu, carinho, desposava enfim o suave sabor do mar e o perfume almiscarado do destino!

E quando, no colo ainda adormecido da manhã, enfloravas demoradamente o teu olhar de princesa completa, eu podia ouvir em silêncio a voz distante do mar.

E, no fascínio de te escutar, recolhia-te nos meus pensamentos e embalava-te numa memória prometida…

Depois… e só depois,

Segurava com um beijo a manhã, surpreendida com tanto amor…

(DIONÍSIO VILA MAIOR, in "Cântico Atlante", Coimbra, Pé de Página Editores)