"Displasia sentimental"

"Displasia sentimental"

Por andas tu, que nunca devias ter ido embora?

O que fazes, que já nem é da minha conta, mas por curiosidade, gostaria muito de saber...

Nem me responda por quê não voltaste, se é óbvio que se fosse para ficar nem terias ido.

Nós somos assim mesmo... ...propensos ao engano, quando nos embriagamos com a bebida trocada. Eu nem diria errada, porque para cada momento há uma graduação exata, se é que assim se pode dizer, pois quando o assunto é entorpecer qualquer destilado ou fermentado pode muito bem descer.

Despertado da ebriedade me dou conta que a sobriedade me faz sofrer, e se quiserem taxar por desculpa, que assim o façam, mas cada um tem o seu vício, e eu apenas troquei de recurso. Quando bebia do teu mel, nem imaginava que gosto tinha o fel, mas os teus lábios hoje são memória de um tempo que escreveu as páginas mais lindas da minha história.

Oh recordação maldita, que deixa minh'alma aflita e à beira de um precipício me faz gritar. O silêncio quebrado por um soluço e o eco deste inevitável gesto de agonia mostra que eu me esmiúço, e nem há como disfarçar.

Se não fosse a poesia amiga, alento sempre presente na solidão inimiga, já teria desistido e não mais insistido, mas só quem sente mensura a resistência e a insistência desta displasia chamada amargor.

Bem no fundo, lá no fundo destes cálices profundos percebo meus olhos enrubrecidos pelo tanto que já pranteei. Não há melancolia que resgate o brilho do dia, antes torna-o ainda mais nublado mesmo sabendo que acima de tudo há um sol que não para de brilhar. É para lá, para cima das nuvens que eu preciso viajar.

Lael Santos
Enviado por Lael Santos em 04/12/2017
Reeditado em 25/12/2017
Código do texto: T6190038
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