Esse teu olhar

No lugar esquecido do arco-íris,

Permanecia esse teu anseio diante de um esplendor

Em harmonia ---adormecida--- com um [silêncio] flutuante

(onde a des-pe-di-da e a descoberta de ti

vão cativando o mistério da escrita)

Como discretas flores por detrás das pétalas…

hesitantes…

Assim descobri os meus olhos quando me repousei no

TEU OLHAR.

É certo,

Bailavas em mim ausente,

Em sombra na esquina dos sonhos……………………

Tão distante…

Tão rente…

É certo,

Eras realidade dançante,

Numa cumplicidade esculpida a ausência…

E, no entanto…

Suspendeu-se a Primavera na figura dos teus olhos extensos… extensos… extensos…

Depois,

Renascias em recônditos enleios

— íntimos testemunhos reclinados sobre murmúrios de dissabores esquecidos — …

E comparecias

florescentemente,

constantemente,

no cântico brilhante do teu sorriso

O teu sorriso …

Ah, o teu sorriso!

Sem nunca se ausentar de um encanto tentador,

Liberto dos mistérios da poesia,

Seduzia o fulgor do mar em noites largas e despertas.

E vejo-te,

Mulher profunda

Retirando-se no círculo ajustado do teu corpo…

Mulher franca

Amanhecendo na liberdade estival e refulgente da memória com sabores a infinito...

A infinitos placidamente inquietos…

E, discretas,

As minhas mãos foram pulsando canções

em deleites subtis,

repletos de sentidos entregues ao teu canto tranquilo.

E, uma noite,

Quando

os dedos combinavam

A ousadia da sinceridade,

Percorreu-me em fúria

Um sopro lúbrico de estranha feição,

Conivente com a imaginação do teu pescoço desnudado,

Vacilando ao desejo do teu corpo ardente, deliciosa precisão de formas percebidas…

E as palavras pararam.

Calientes,

Entrelaçadas,

Por entre o sabor erótico dos teus ((lábios))

(DIONÍSIO VILA MAIOR, in "Cântico Atlante", Coimbra, Pé de Página Editores)