Vermelho
Vejam! Nem tudo o que é puro e ardente, é justo.
Vejam! Feri meu deus, o que me dá asas, de vermelho.
Vejam! Este vermelho é sangue; é “amor”.
Pois que puro e inocente é o vermelho que pulsa.
Não vê vida e nem morte, só vermelho.
E assim encanta o puro, a bondade e o olhar.
Ah! Encanta-me o olhar que de claro vai a turvo.
E do mundo sempiterno e iridescente rouba tudo.
Ai d’aqueles que perderam as cores!
Vejam! Já santos e cidades e eras morreram
Nas batalhas onde a terra e os muros até hoje guardam
O perfume acre e irônico do vermelho.
Eu falo somente aos anjos.
E somente os anjos podem me ouvir.
Vós, anjos, compreendeis!!
A criança da alma é frágil e branca
Quer e ama tudo o que é belo
Mas burro é o vermelho; e irracional
E despido de todos os louvores que os olhos encantados lhe emprestam
No fim o que resta é seu pérfido esqueleto a pingar sangue!
Vós, anjos, podem ver!
Infinito querer e infinita beleza é o vermelho
Mas é só isso.
Nem vida e nem liberdade.
Nem cores. Só vermelho.
Então, crianças, olhem com cuidado:
Do vermelho eu retiro o falso manto do “amor”
E chamo-o de paixão.
Vejam! O vermelho não passa de um encantador!
Vejam! A criança da minha alma está manchada de vermelho!
Mas eu retirei o visco rubro dos olhos
Vós, anjos, compreendeis!
Aos doentes de vermelho, aos pobres carniçais eu digo:
Antes uma caverna onde eu possa estar só e ser eu mesma
Do que um mundo vermelho!
Ai d’aqueles a quem o vermelho roubou todas as cores!
Vós, doentes, não me ouviríeis
Pois que eu falo somente aos anjos e às crianças.
Vejam!
Quem é bom não há de dormir e nem de ser encantado.