Beijos Fantasmas

Junto a minha tia eu fui a capela, por que ela queria

Talvez fora o destino, mas de longe vi uma menina

Linda, a pele branca como as nuvens do dia

Estava distante, estava sozinha

Eu fiquei fascinado pela sua beleza

Deixei minha companhia e parti,

Ao encontro da pequena sereia

Ela me disse que morava nas redondezas

Perguntei se não tinha medo do cemitério,

Ela respondeu dizendo que era bobeira,

Muitos de seus parentes descansavam lá

Quando percebi, o tempo havia passado,

Eu acabei por ficar enfeitiçado pelo seu charme

Minha tia já estava terminando,

E por aquela garota eu estava me apaixonando

Ao término, perguntei se poderia vê-la novamente

Eu conhecia aquela rua, e em concordar, fui embora contente.

No dia seguinte, lá estava ela, no mesmo lugar

Comecei a pensar que ela talvez gostasse mesmo de rezar

Eu não iria critica-la, cada vez mais eu estava a me maravilhar

Conversávamos sobre tudo, sobre as flores, sobre o mundo

Me lembro que ela me perguntou uma vez,

Se eu sabia quantos túmulos havia depois do muro

Eu não fazia ideia, ainda disse que sentia muito.

Nossos encontros se tornaram diários

Meus professores da escola se espantavam,

Com a rapidez que eu entregava os trabalhos

Apenas para subir aquela rua de pedra,

E me encontrar com a linda donzela.

Depois de algum tempo, sobre o olhar da Lua,

Nossos lábios finalmente se encontraram

Me senti como se pudesse iluminar aquela noite escura

Eu a segurava em meus braços,

Sentia toda a sua ternura,

E tentava aquecê-la, pois era fria a sua pele

Os beijos seguintes foram leves, mas nada breves

E estavam carregados com sentimentos esbeltos

Eu queria que aquele momento fosse eterno,

Mas para sempre ele estará vivo, escrito neste caderno.

Ao nascer do dia seguinte, não a vi

A capela ainda permanecia, mas ela não estava mais ali

Eu voltei nos dias futuros,

Meu coração começará a ficar inseguro, sentia sua falta,

E eu sempre chorava quando voltava para casa

Eu sentia uma grande saudade

Ela havia criado em mim uma fragilidade.

Alguns meses depois fui, junto a minha tia, ao cemitério

Era o aniversário de minha vó

Eu estava um pouco imerso, com pensamentos no deserto

Enquanto nos retirávamos, eu notei, lá de longe,

Um senhor de idade, ajoelhado, diante de um túmulo belo

Ao nos aproximar,

Indaguei aos meus olhos se eles estavam cegos

Não aguentei e simplesmente despenquei

Aquela a quem me beijará, jaz a mais de uma década naquele túmulo

O meu amor fora ou não real? Eu ainda era puro?

O tempo me obrigou a superar

Às vezes eu acordava e me lembrava

E com ela eu sonhava, nunca consegui acreditar

Até que a velhice veio me falar,

Que meu tempo haveria de chegar.

Me apaixonei por outra pessoa,

E junto a ela, tive uma vida duradoura

Nossos filhos deram, aos filhos, os nossos nomes

Eu sempre amei minha esposa,

Mas nunca quis esquecer daquela minha juventude,

Da garota especial, de quando estávamos juntos

Nunca se foi da lembrança seu beijo, apesar de tudo

Sessenta anos se apoiaram em meus ombros

E, lá no fundo, continuei amando ela, talvez esperando,

O dia em que eu fosse encontra-la, assim como antes.

Eu voltei a ser aquele mesmo rapaz,

Quando Deus finalmente me deu a eterna paz,

Fui descansar no fim da rua de pedras

Quando abri meus olhos, eu vi ela

Permanecia a mesma, e eu perdi uns setenta anos

Éramos novamente dois jovens se abraçando.

Ela esticou sua mão para mim, e partimos

Pelas ruas caminhávamos sorrindo

Me despedi pela última vez de minha esposa e filhos,

E subi, em direção aos céus, com aquela mesma garota,

Que conheci na capela, e que hoje comigo voa.