SAUDADE DELA

O silêncio no quarto

Apavora-me a alma:

“Tenho medo!”

Mas ainda é cedo

Tenha calma,

Diz o relógio sobre a mesa.

O frio acaricia meu pé

E um arrepio noturno

Crava suas garras

Em minha pele

Enquanto o aroma do café

Esquecido sobre a mesa

Rasteja por minha garganta:

“Não tem mais jeito!”

Num último esforço

Enfiando os dedos na poltrona

Impulsiono o corpo

Forçando-me a levantar

Pra outra vez cair

De bruços sobre o tapete:

“Não tem jeito”.

E já quase a adormecer

Escuto lá do quarto

O silencio a gargalhar

E antes de dormir

Ainda suspiro

Em delírio a murmurar:

“Ela não vai mais voltar”.