eu não vou voltar a escrever sobre você

Descobri algo esta noite

No vazio que habitava o meu peito

Voltando para casa no banco do taxi

Com os vidros fechados, para que ninguém daquele clube pudesse me ver.

Descobri algo esta noite

Enquanto dançava para chamar a sua atenção

E você bebia mais do que devia

Com outros desaparecia

Para tê-los em sua hora de prazer.

Descobri algo quando tentei te beijar

Num impulso absurdo

Implorando por uma resposta

Mas você nem pareceu perceber.

Descobri algo na maneira como me olha

No jeito que zomba dos meus sentimentos com sua pose de vitória

E me mantém por perto

Pois sabe que assim nunca deixarei seu ego desfalecer.

Entro em casa

A visão embaçada

Não tem ninguém para me receber.

Há uma centena de rascunhos espalhados

Textos mal formados

E com tristeza

Noto que são todos sobre você.

Estou cansado

Dos seus dramas e de ter que calar os seus demônios irritados

Enquanto vejo a minha própria ruína prevalecer.

Saio no meio da madrugada

Por ruas desertas e mal iluminadas

Sem medo do que possa me acontecer.

Bato na sua porta

Me esforço para segurar as lágrimas

E manter o louco ímpeto de coragem

De fazer isso se concretizar ou morrer.

Conto tudo sem pausas

Sem barreiras, filtros ou meias palavras

Falo de como me sinto, das coisas que você já deveria saber.

Não imploro para ser correspondido

Mas minha mente reza para que me tome como seu abrigo

E não aquele que agora dorme na sua cama e não pode nos ver.

Você diz todas essas coisas clichês

Vindas dos seus lábios me acertam como cacos de vidro.

Exige que eu me controle quando peço apenas por uma chance

Uma maneira de provar o meu amor

Diz que é melhor eu apagar o que sinto.

Volto para casa

E você para os braços de um desconhecido.

No chuveiro, deixo que as lágrimas me escapem

E no decorrer cinzento das semanas

Escrevo um livro.

Pouco a pouco, os dias voltam a fazer sentido

Agora sei que não percebi nada naquela noite

Apenas vi o que não queria ver

Eu e você nunca seríamos mais do que esse estranho tipo de amigos.

Não posso mentir dizendo ter esquecido

Meu amor ainda respira

Mas está envenenado por tudo o que tenho escrito.

Este é o último golpe.

O começo do fim.

Essas linhas dizem tudo o que eu sinto

Expulsam o meu amor e a minha doença

Tiram você de mim.

Depois daqui, nunca vou escrever sobre você outra vez.

Depois daqui, não vou voltar a olhar para trás.

O tempo passa, feridas fecham

Cicatrizes são deixadas, mas me fazem crescer.

E como tudo muda

Eu também mudo

E nunca vou voltar a escrever sobre você.