Estrela

Deste-me a surpresa de, no relento da tua frase,

Balançares segredos de menino

Nas sombras que se desprendem dos meus olhos…

Deste-me a surpresa de, no orvalho do teu sorriso,

Recordares o compromisso azul de uma águia, aleando

Na saudade excessiva, liberta para um só pecado…

Deste-me a surpresa de, na lisura da tua voz,

Consentires na sinceridade imprevista

Que os deuses encontraram nos contornos marítimos da Primavera…

Deste-me a surpresa de, nas dunas poetadas pelo teu modo de ser,

Revelares que o som tranquilo da chuva está, afinal,

No canto sensível daquela flor silvestre irmanada com

A fecunda lembrança de uma ternura esquecida e com

A margem robusta da emoção…

Deste-me a surpresa de, mulher sazonada e sublime,

Apeteceres como mimosa nectarina,

A quem o quebranto de mil lágrimas renunciou

Como ímpeto de vagas inibidas nos limites da praia vigorosa…

Deste-me a surpresa de, na envolvência que nasce do relevo transparente do luar,

Caminhares com as tuas blusas atrevidas e desprendidas,

Comendo pipocas e tomando banho gelado no rumor ardente do vento dos coqueiros,

Descrevendo carinhoso e cadencioso carinho em cabelos libertos numa infinita harmonia…

Hoje, são dez horas…

Agora, a noite está quieta, por detrás daquele intervalo audível de um violino no telhado…

E o ténue e esbatido sobressalto veste-se de um azul fulgente,

Desfazendo-se pela doce e sensual gentileza da tua graça…

Agora, a noite está quieta…

Talvez seja pelo perfume das palavras de uma estrela, tão delicada e generosa…

Talvez seja pelo conforto do melodioso sorriso de uma estrela menina…

Talvez seja pela nitidez do modo de ser de uma estrela, tão espontânea e dedicada…

Os amantes dos céus e dos paraísos, esses, baptizaram essa estrela com o teu nome.

(DIONÍSIO VILA MAIOR, in "Cântico Atlante", Coimbra, Pé de Página Editores)