O choro das estrelas

No eco do silêncio, desajeitado no gesto,

O homem verteu em desarranjadas melodias

Notas sobre entusiasmos desnudados.

E despediu-se da madrugada,

Sentindo por momentos que

Lua e Sol se tinham desposado…

Com arroz, flores, coro e tudo…

Tudo?

Não!

No eco do seu silêncio, faltavam as companheiras de jornada.

E, com alongada tristeza,

Pediu duas lágrimas no leito que ele mesmo desenhara.

E falou assim:

Chorai por mim, estrelas desse mar azul e negro,

Que os meus olhos secaram.

Chorai por mim, estrelas desse mar azul e negro,

Que o maná da minha generosidade, tamanina,

Não chegou para vos libertar.

Chorai por mim, estrelas,

Que pelas minhas mãos exangues escorrem rios ensanguentados,

Unidos em entrelaçadas nostalgias

Com aquele tempo, estrelas, em que, em fervor,

O Amor, o Sonho e a Paixão

Sentiam as mãos…

Estrelas,

Chorai por mim…

(DIONÍSIO VILA MAIOR, in "Cântico Atlante", Coimbra, Pé de Página Editores)