Poeta fingidor

Vida de poeta

Não é igual a dos demais mortais,

Porque, como dizia Pessoa,

Bem claramente,

O poeta é um fingidor,

Finge tão completamente,

Que chega a fingir que é dor,

A dor que deveras sente.

Poeta, de verdade,

Para encontrar inspiração,

Tem que machucar o coração,

Se entristecer de saudade.

É preciso estar sofrendo,

Pela paixão distraído,

Pelo amor desguarnecido,

Vítima do pensamento.

Sua maior obra prima

Daquelas que faz chorar o leitor,

Quando escreve de amor,

Dividindo a dor com a rima,

É quando se perde a paixão

A que lhe prometeu um dia

Jamais lhe deixaria,

Sem o calor da união.

Assim o poeta diz,

Fingindo sua alegria,

Trocando a noite pelo dia,

Passando-se por feliz.

Mas, como a vida nos faz ensinar,

Não vale a pena sofrer,

Pois, para o velho amor esquecer,

Basta um novo amor encontrar.