Velho amigo
ó, velho amigo
estamos juntos há tanto tempo
temos que nos separar
você esteve comigo naqueles dias frios de junho
nos louros dias de agosto
e a cada queda
nublou minhas vistas
para que não doesse tanto ao cair
ó meu velho amigo,
ainda penso naquele dia treze
ainda dói
mas não posso mais deixar nublar
preciso enxergar
não posso mais anestesiar
você maquia minhas dores
mas pode me matar
tão velho amigo,
ainda penso naquelas madrugadas lisérgicas
em que nós três nos amávamos
como se o mundo acabasse ao amanhecer
quando o tempo ameaçava me matar
você distraia a espera
mas sempre soube que era suicídio te amar
a cada dia que me perdia
quando não havia esquina,
saída
te respirar era como recuperar o ar
aqueles dias
aqueles olhos castanhos
aquele cinza
me fazia sonhar com o dia que seria fácil te deixar
mas precisei de ti
pra não me matar
mas tu me mata enquanto ilude me salvar
me salvou de minutos tensos
esteve presente em momentos intensos
roslyn toca mais uma vez.
ainda penso
fere meu peito
mas preciso manter a sensatez
em noites escuras
em dias de chuva
éramos nós
perdidos na rua
amantes da lua
eu, tu e a embriaguez
faltava um fio naquela barba, me lembro bem
cachos enrolados nos meus dedos
roupas perdidas pelo chão
foi num dia três
que se cumpriu o que por um ano inteiro
alterava meus nervos
meu corpo se arrepiava inteiro
foi em um janeiro
meu tão velho e querido amigo,
eu não posso mais morrer.
me escondi na ideia de morrer consolada pelo modo que secava minhas lágrimas
por tanto tempo fomos só nós dois
eu tenho que viver
meu coração tem alguém que torna esse abismo mais raso
eu preciso te deixar
e é com amor que o faço.
talvez nos encontremos numa esquina
num bar
numa noite fria
talvez um dia
nós três nos encontremos mais uma vez
me despeço e agradeço por esse amor fatal
por ter sido capaz de me fazer sentir o suficiente
pra morrer e decidir viver
antes com, hoje sem você.
estou velha.