Hoje

(Escrevi isso aqui como um desabafo diante da morte de Marielle Franco, como um agradecimento por todos aqueles que lutam na defesa de garantir humanidade para todos os humanos, como uma homenagem a todos aqueles que morrem nas mãos do sistema imundo desse país. Marielle, sua luta não será esquecida. Conosco, você vive!)

Hoje

Nossa esperança respira com dificuldade

A ar

Sujo que a envenena e dela caçoa

Corrói nossas veias

Determinado

Nos enfraquece

Desinibido

Não mede esforços na tarefa de nos extinguir.

Hoje

Lutamos com uma arma apontada para nossas cabeças

Lutamos com o peito inflado pelo sonho

De transformar a tempestade em dias de sol

Lutamos pelos nossos corpos e pelo direito de por eles decidir

Pelo simples fato de amar quem amamos

E pela honra da memória que os tons da nossa pele podem guardar

A mão

Pálida e rica

Se reveste em ouro, prata

E em sangue se banha

Antes derramado na construção desse solo

Agora derramado pela manifestação do ódio, do medo

Hoje

Nosso coração sangra

Nossa alma deplora

A história lamenta

Hoje

Mais um cai indo contra o sistema

Os ciclos

Se repetem, reprimem, maltratam

Nos matam

Enquanto pedidos de justiça

De amar o que é humano

De mudança e de respeito

Pairam

Renegados

Por aqueles que deveriam por todos governar

Hoje

O país chora

Mas nossa febre clama

Proclama o legado deixado

E mesmo que o medo floresça

Que o ímpeto prevaleça

E nunca se extingua a bela força para nadar contra as violentas ondas da maré.

Que nossa voz grite mais alto

Que nosso sonho brilhe intenso

Porque enquanto continuarmos de pé

Nenhuma morte será esquecida

Todo sangue ontem e hoje derramado

Não será silenciado

Enquanto resistirmos

Todo irmão interrompido

Arrancado pela mão impiedosa

Não terá partido em vão.