REENLOUQUECIDO EM MINHA TRISTEZA
Te invoco e percebo que foste
em minha pobre vida pária
uma boa biblioteca.
Ficaste lá,
no castelo vermelho
com Pablo Neruda
Manuel Alegre e Julio Cortázar,
com quase todos os fragmentos
de um discurso amoroso
com o amaro de Drummond
e a borra do café
(a minha e a de Benedetti)
levaste toda a prosa e poesia
o amor e o sexo
os tratados políticos
a história
desde A República até
as mais novas ilhas Utopia.
Através dos dias e noites
de amor e de guerra
avançaste como um câncer
abrindo caminho entre as flores
do mal e de sangue
destruíste arquétipos
erigiste cidades
e por fim escreveste
teu nome em meu tempo.
Depois do nosso ponto final
só resta as veias abertas
da minha américa latina
viraste a rosa do povo
e ao poeta
só ficaram as letras
que ele tenta juntar
para te reconstruir.