Garoa Fria

Nos encontramos debaixo do mesmo céu cinzento

Nas margens do mesmo rio que costumávamos nos afogar

E por um momento o solo pareceu firme

A tempestade se tornou garoa

O sol emergiu sobre o oceano de caos

Então eu soube

Que o seu tormento podia acalmar o meu

Por todo mês de dezembro

Você segurou a minha mão e me olhou nos olhos

Enquanto a cidade antiga ao nosso redor se refazia dia após dia

Me mostrou os seus espinhos e me pediu para ficar

Assim mesmo

Sem se importar que a minha chuva inconstante te molhesse

E as suas encostas de pedra pudessem me devastar ao cair

Eu aceitei

Assisti dois mundos em pedaços coliderem

E os destroços formarem um novo

Que parecia inteiro

Onde pude me sentir em casa

Pela primeira vez

Nos descobrimos na mesma noite sem lua

Fizemos da nossa confusão um lugar em comum

No fundo, ainda me encontro perdido

Porém, tranquilo

Estou perdido com tudo o que eu precisava ter

Com você

Sua mão procura pela minha enquanto olha pela janela

Os dedos se entrelaçam aos meus

De forma lenta e firme

Não há medo nos seus atos

Mesmo que ele impere ao nosso redor.

Estamos indo rápido demais?

Talvez

Mas não me preocupo

Na garoa, a tempestade se torna apenas uma lembrança distante

Um dia ruim, ao qual não quero voltar.

Na madrugada barulhenta

Com ruas cheias de camisas vermelhas

Que gritam até a garganta sangrar

Seu caos é o abrigo que me protege da minha agonia

E enquanto o mundo desaba lá fora

Desabo dentro de você

E você de mim

A tempestade é incapaz de me alcançar

~guilherme le fay