Lugar de Lamento

O dia chega ao fim

A casa continua vazia

Mesmo você estando aqui

Esquento água para o café

Deixo que o peso dos meus ombros os aponte para baixo

Cansado demais para continuar a sustentar

Os fardos que acumulei

Junto a janela aberta

A grade que impede a queda

Mas não para o vento

Quando este entra trazendo o cheiro do capim, dos coqueiros

E lambe o meu rosto com o aroma da liberdade que nunca vou ter.

Junto a janela aberta

No fim do dia

Quando o sol brilha como ouro

Ao se afogar no horizonte

E permite que a escuridão da noite aos poucos apareça

Junto a janela aberta

Com o som da água no bule fervendo ao fundo

Com o peso que sustento cobrando o seu preço

E a música distante da sua risada tocando no quarto

Junto a janela aberta

Diante da luz suave que inspirou os pintores

Choro pela ausência que cresceu dentro de mim

Entre nós dois

E me fez esquecer quem sou

Me fez apagar o que senti por você

Junto ao dourado do último suspiro de sol que toca meu rosto

Junto a lembrança de um passado tão próximo, mas que desbota

Lamento pelo caminho que seguimos

Onde a chama do nosso amor decidiu não mais arder.

Junto ao meu peito vazio

Seguro entre mãos trêmulas a camisa fria

Enquanto tento parar lágrimas de agonia

E me perco na tempestade do meu ser

Sem querer

Me perco no desejo insano de viver algo sem vida

Sem alegria

Me nego a ver a verdade que rodeia o ar

E contamina nossas palavras vazias

Deixamos o nosso amor afundar

Como o sol afunda no horizonte

Só resta um noite longa

Onde ninguém é corajoso o suficiente para partir.

~Guilherme le Fay