O poeta e eu

Olhando os que trabalham aqui e agora.

Vejo pessoas vazias nesse mundo moderno.

Saio de mim! Penso distante...muito distante...viajo ao séc XIII.

Saio de mim como uma borboleta de seu casulo. Idade Média e Mundo Moderno.

O meu corpo vagando pela Toscana.

Vejo ruelas, casas antigas, praças e igrejas florentinas. Sim, estou em Florença.

Visões cruzadas: passado e presente. Num átimo, eis que vejo O poeta e eu.

Eu ou Béatrix?Dúvidas...

Veio-me Dante ainda criança com sua bela Bréatrix

Em um momento de êxtase eu penso:

Quanto amor! Amor à primeira vista! Amor pueril!

O meu ou o deles?

O grande poeta, sem saber que seria tão grande

A bela Bréatrix, sem saber que seria imortalizada no «Paraíso»!

E eu sem saber o que faço aqui...

Que beleza!Que vida de fugas e incompreensões políticas!

Eu aqui nesta sala vazia. Rogo ao poeta que me escute, mas... nada:

Dante, salva-me dos perigos deste século XXI!

Guia-me pelos caminhos da humanidade humanizada, reinventada, se ela existe ainda!

Livra-me do reflexo mortal que vejo neste espelho agora!

Mundo real, com visões dantescas que vão além das do «Purgatório».Volto ao meu estado de observação do concreto. Silêncio profundo!

Volto a rogar ao poeta:

Dante, quero decifrar-te antes que me condenes a teu «Inferno».

Julga-me pelos meus pecados amargos cometidos e desvios mundanos gozados.

Peça a Virgílio que me conduza aos recantos sombrios e funestos da minha antiga vida, sem vendas, sem máscaras a fim de redimi-la.

Não quero fazer essa viagem sozinha tampouco sem tua orientação.

Não quero exílio nem fuga!

Quero que revejas o reflexo do meu passado no presente. Visita a minha memória adormecida...Revela-me meu passado para que eu o compreenda agora.

Quero estar com os deuses e Béatrix, mas és tu, Grande Poeta, que desejo sentir...

És tu que procuro entender...

Teus rastros e vestígios. Tuas alegorias e enigmas, quero devorá-las!

Florença é parte de ti. Siena e Ravena também. Aquela o teu exílio, esta a tua tumba!

Tuas inquietações talvez sejam as minhas em tempos distintos, mas de igual intensidade!

Poeta, que os ventos nos conduzam à paz e à lucidez, mas também à redenção.

Chega de fugas! Inferno, Purgatório...estes jamais, pois é o Paraíso que me espera com suas delícias e tentações!

A campainha toca! Desperto, enfim... mas Florença ainda está em mim!

(10/05/2019)

Cristiane Grandinot
Enviado por Cristiane Grandinot em 17/09/2019
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