De Gabriel à Lara.
Vais lindíssima amante,
mas deixas lembranças dos dias
nos quais eu me mataria
se não houvesse essa sombra,
se não houvesse essa obra
tão sublime que é teu corpo.
Se não fosse o meu encosto,
o teu andar sorrateiro,
se não vistes o dia inteiro,
nem noite mais haveria;
se tua cor não havia,
difundia o desespero.
Complexo e detalhado,
tão forte, tão forte teu sopro,
eu vivo, fencundo tu'alma;
eu sinto, eu toco, eu ouço,
eu descubro tua calma
e te dou o meu nirvana,
nos templos de bronze da cama
onde depois eu repouso.
Eu nem creio minha deusa
que haja tão doce conjunto;
és todos os meus momentos,
és todos os meus assuntos
e todos os meus pensamentos;
tu guardas toda minha força,
tu tocas meus sonhos com a boca
e ascendemos os dois juntos.