EU E O NUNCA

Compro malas,

vendo sonhos

pra fazer meios

de comprar

um ingresso

para o nunca

de amanhã

a sorrir de minhas

graças tão

sem graça

quando paro num bar

e bebo a noite

na boca dos homens

e acordo estrela

no céu da rua

deserta e nua!

Me cubro de pelos

e uivo ao longe

num quadro

engraçado cheio

de verdes berilo

e azuis turquesa

porque o anil

ficou branqueando

a roupa no varal

a balançar seu perfume

sobre as cabeças das crianças

nas têgas, amarelinhas,

piques bandeira

e rolimãs de cadeiras!

Eu sou a nuvem,

a luva de uma dama displicente

sorrindo pra o malandro

bonito com pegada

de macho que assanha

a virgem arrepiada

na partes escondidas

de mulher sozinha!

Continuo vendendo sonhos,

agora sem malas,

sem bagagem,

sem merenda de viagens

e com a saia amarrada

em volta dos quadris

avantajados

requebrando a vida,

que de tão bonita

me convida pra posar

nua num barco

que, velejando, irá aportar

lá do outro lado,

onde nada é eterno

e o eterno é tudo!

Eugênia L.Gaio

Eugenia L Gaio
Enviado por Eugenia L Gaio em 15/01/2020
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